Quantum Bird – 30 de abril de 2024
Há algum tempo escrevi sobre a inexorabilidade do colapso das estruturas políticas e econômicas do Ocidente Coletivo. Na ocasião, entre outros aspectos, comentei sobre a condenação do Estado de Israel por genocídio em pelo ICJ. Aqui está um trecho do que escrevi:
Finalmente, o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) acaba de condenar efetivamente, ainda que não definitivamente, Israel por genocídio. O malabarismo retórico expresso na decisão e a atitude geral das potências ocidentais, que aparentemente estão usando a decisão para sinalizar virtudes e mais uma vez não fazer nada a respeito para que o genocídio seja interrompido, servirão apenas como mais uma demonstração gráfica da falência das instituições políticas ocidentais e sua total inadequação política e moral para liderar qualquer coisa no mundo. Por outro lado, acabou o teatro de acusar de antissemitismo qualquer um que aponte o óbvio sobre Israel: um regime de apartheid genocida. Com a decisão do ICJ em punho, os atores do Sul Global poderão agora atuar unilateralmente para forçar, de uma forma ou de outra, a implementação do veredicto.
O artigo citado acima foi publicado em 27 de janeiro de 2024. Desde então, fraturas se insinuaram na relação entre Israel e os EUA. O Irã atacou diretamente Israel para retaliar o bombardeamento de seu consulado em Damasco — recebendo amplo apoio de todo o Sul Global ao fazê-lo. As ações do Eixo da Resistência se intensificaram. O regime israelense entrou em uma profunda crise política e econômica. O extremismo de Israel está fora de controle. O isolamento de Israel na arena internacional é quase completo e o Eixo Anglossionista nunca esteve tão exposto em sua hipocrisia e padrões duplos.
Hoje gostaria de examinar brevemente uma situação em desenvolvimento, que parece confirmar os prognósticos feitos no artigo anterior. Trata-se da possibilidade, muito real, da emissão de ordem internacional de prisão pelo TPI (Tribunal Penal Internacional), de Haia, contra Netanyahu e outros oficiais do governo e das forças armadas israelenses. A tramitação ocorre num momento em que a invasão de Rafah parece ser iminente, segundo declarações do próprio Netanyahu.
Estados Unidos, Inglaterra e alguns outros atores estão adotando uma instância ambígua sobre a questão. Por um lado, a emissão da ordem de prisão pelo TPI parece estar sendo usada como uma carta coringa para pressionar Israel a evitar a invasão de Rafah. Por outro, os políticos dos EUA e seus satélites têm seus próprios crimes de guerra e genocídios para responder sobre, e não podem se dar ao luxo de permitir que tal precedente seja estabelecido contra um membro central do Ocidente Coletivo.
Lembre-se que Estados Unidos, Rússia e Israel não são membros do TPI. No caso Russo, isso não impediu que o tribunal emitisse ordem de prisão contra Putin no ano passado. Os argumentos usados para justificar a decisão — corretos ou não — no caso de Putin, se aplicam precisamente a Netanyahu e seu gabinete. Com agravantes sérios.
E este é ponto dessa nota. O TPI que – como diria meu caro amigo Enlil – foi estabelecido para perseguir e condenar dissidentes dos EUA, e seus vassalos, pelo Sul Global (ou seja, prender latino americanos, africanos, e asiáticos ) agora está em vias de extinção por obsolescência (não programada). Assim como o ICJ e a própria ONU, com o Conselho de Segurança e as agências humanitárias incluídos. Basicamente, não faltam motivos para prender Netanyahu e seu gabinete por tudo que já combinaram em Gaza, na Síria e no Líbano, mas se Israel invadir Rafah, a emissão da ordem de prisão será inevitável. Se a ordem de prisão for emitida, ninguém será preso. E se não for, o TPI perderá explicitamente sua utilidade. Em ambos os casos a instituição se mostrará obviamente enviesada e/ou irrelevante. Portanto, podemos facilmente antever uma revoada de seus membros do Sul Global.
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